quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

MEMÓRIAS DO SÉCULO XX: Os vagões-fantasma!


«Após a morte de Sidónio Pais e da tentativa de restauração monárquica de Monsanto, a UON (União Operária Nacional) retomou a sua antiga pujança.
A 23 de Fevereiro de 1919 publica-se o 1º número do diário A Batalha, com Alexandre Vieira como director, acumulando este trabalhoso cargo com o de secretário-geral da UON.

A 19 de Junho de 1919 publica-se outro diário, da tarde, Avante! sob direcção de Carlos José de Sousa, jornal que suspende a sua publicação logo em 7 de Agosto, em virtude dos prejuízos causados pelas violentas perseguições governamentais.

Essas violências estenderam-se igualmente à Batalha cuja sede é encerrada assim como a da U.O.N. por motivo da greve de solidariedade do operariado para com os grevistas da Companhia União Fabril-violências que por sua vez determinaram um segundo movimento de solidariedade para com a Batalha por parte dos gráficos dos jornais diários burgueses, os quais, espontaneamente proclamaram a greve geral.

Em Olhão com uma greve de marítimos produzem-se algumas mortes e feridos pela força armada.Em Lisboa são presos, em massa, nas sedes de alguns organismos mais de 200 operários incluindo redacção, administração e tipógrafos de A Batalha....

A estas juntam-se a repressão da CP quanto ao seu pessoal.Em 1919, na greve do pessoal desta companhia, verdadeiro feudo monopolizador, foi exercida a sabotagem no mais alto grau, que era remediada por engenheiros da CP.Nem assim, contudo, conseguiram normalizar o serviço.E foi então que o governo de Sá Cardoso permitiu que à frente de cada locomotiva dos comboios fosse atrelado um jota descoberto e obrigado a ir dentro do mesmo alguns grevistas-vagão-fantasma, destinado a obstar à sabotagem nas linhas do percurso dos poucos comboios pilotados por gente recrutada nos meios aristocráticos e reaccionários.
Assim tem sido compreendidos pelos nossos republicanos os princípios da democracia-essa coisa que dizem ser o governo do povo pelo povo.»

Manuel Joaquim de Sousa in O Sindicalismo em Portugal,Afrontamento, Setembro de 1974

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