segunda-feira, 24 de agosto de 2009

SINDICALISMO AUTÓNOMO EM PORTUGAL (crónica II)

A década de 1920 a 1930 foi dramática para o movimento operário e sindical português.Após o apogeu, com a CGT de ideologia anarco-sindicalista e talvez mais de 100.000 associados, o movimento sindical inicia um processo de divisão e de progressiva desagregação que culminaria com a luta desesperada contra o avanço da ditadura militar de Gomes da Costa e mais tarde da ditadura fascista de Salazar!

Durante esta década e com a criação do PCP agudiza-se a cisão do movimento sindical tendo como pano de fundo a evolução da Revolução Russa e a criação da Internacional Sindical Vermelha (ISV).Uma nova concepção sindical germina nos sindicatos em vários países e em Portugal.Esta concepção diverge substancialmente do anarco - sidicalismo. É centralista e considera os sindicatos um espaço de luta política dirigida pelo PCP e ,em última análise, pela Internacional Comunista (IC) dirigida por Moscovo.

Nesta concepção sindical o partido político é a verdadeira direcção do movimento operário e a autonomia é entendida como autonomia de classe cuja vanguarda é o partido comunista.Esta via era absolutamente inconciliável com a perspectiva anarco-sindicalista que considerava inaceitável a ligação a qualquer organização política.

As diferentes concepções sindicais, sem esquecer ainda a socialista (Federação Autónoma Operária) estiveram em confronto em diversos momentos e foram uma das razões do fracasso da greve geral de de 18 de Janeiro de 1934 quando a ditadura impôs o seu modelo de relações laborais (corporativismo fascista), nomeadamente os seus sindicatos através da repressão brutal do movimento operário!

Como se viveu o problema da autonomia nas décadas da ditadura e como agiram os socialistas,comunistas,anarquistas e um outro actor sindical emergente, os católicos, esta questão?A ver numa próxima crónica.

´«A criação da ISV por iniciativa do conselho central pan-russo dos sindicatos, em Julho de 1920 foi recebida por uns com entusiasmo um pouco irreflectido e intempestivo, por outros com reservada prevenção e por muitos com declarada hostilidade.Desde o seu início uma nova causa de pugnas,lutas e dissenções se ergueu entre as falanges trabalhadoras.... Um dos pontos que mais celeuma tem levantado é o da famosa resolução 11(artigo 4º dos estatutos)estabelecendo uma ligação orgânica entre a ISV e a IC.... Fiéis entretanto à orientação e à tradição do nosso sindicalismo, julgamos que esta ligação de ordem internacional assim como as ligações de ordem nacional com os partidos comunistas ou quaisquer outras forças políticas de transforção social revolucioária preconizadas pela ISV, devem nacionalmente ser a resultante de autodecisões sindicais liberrimamente tomadas pelas organizações dos diversos países»
(Texto retirado da tese sobre relações internacionais apresentada ao 3º Congresso Operário Nacional realizado na Covilhã,publicada em «Batalha nºs 1169 e 1170 de 17 e 19 de Setembro de 1922)

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