Algumas estatísticas apontam para 800 mil trabalhadores a fazerem turnos em Portugal.Estudos e normas da OIT apoiam as reivindicações sindicais neste domínio há muito tempo.Nos últimos meses tanto o PCP como o Bloco de Esquerda apresentaram propostas para melhorar as condiçôes de trabalho destas pessoas!É justo!
Embora na nossa
legislação laboral esteja escrito (CT.221º,2) que «os turnos devem na medida do
possível, ser organizados de acordo com os interesses e as preferências dos
trabalhadores», a realidade é muito diferente como todos sabemos.Na
generalidade dos casos são os trabalhadores que se sujeitam ao esquema
organizacional da empresa!Quando na lei está escrita a expressão«na medida do
possível»,sabemos bem para que lado cai o prato da balança.
Com efeito, o modelo produtivista que anima a economia dominante, um capitalismo selvagem, tem uma lógica de crescimento infinito.Achamos assim que, por exemplo, uma fábrica de automóveis trabalhe por turnos para produzir cada vez mais carros.Para quê?Que um hospital ou os transportes tenham turnos é absolutamente necessário.São satisfações básicas e fundamentais para o funcionamento da sociedade.Claro que há quem argumente que com turnos há mais emprego.Mas não é esta consideração que está na base da opção de turnos numa empresa, mas antes o aumento dos lucros e a competitividade entre empresas num mundo globalizado.
O pessoal que trabalha
por turnos, e frequentemente de noite,deve ser especialmente protegido em
particular na sua saúde .Não apenas na dimensão que o código do trabalho lhe
atribui, nomeadamente no artigo 222º sobre a proteção em matéria de segurança e
saúde,em que se obriga o empregador a organizar as actividades respetivas neste
domínio como acontece para todos os outros trabalhadores.
O trabalho por turnos e
nocturno não deveria ser autorizado com tanta facilidade às empresas que não
desenvolvem atividades essenciais.Por outro lado, estes trabalhadores deveriam
ter um horário reduzido, inferior às oito horas, e ainda ter direito a uma
idade de reforma também inferior à generalidade dos trabalhadores.São dois
aspetos muito importantes que deveriam ser fixados no Código do Trabalho.Outros
aspetos como compensações monetárias, folgas ou férias poderiam ser matéria
para a negociação coletiva.
Todos os estudos revelam
que estes trabalhadores têm quase sempre, mais tarde ou mais cedo, perturbações
do sono e outros problemas de saúde bem como envelhecimento precoce.Por outro
lado estão mais expostos a riscos psicossociais, como o stresse e solidão,perturbações no
relacionamento social e familiar.
Reduzir-lhes o horário de
trabalho semanal e antecipar-lhes a reforma vai permit
ir-lhes uma melhor
qualidade de vida e de trabalho, nomeadamente de descanso, com forte impacto na
família e na sociedade.
É importante sensibilizar
o poder politico e as instâncias da UE para as condições de trabalho destes
trabalhadores.Sabemos que em contextos de baixos salários há trabalhadores que aceitam os turnos na
mira de compensações financeiras.Os salários baixos e a precariedade existente
levam os trabalhadores a aceitarem condições que, a prazo, irão degradar a sua
saúde e bem estar pessoal e familiar.Daí que por um lado seja fundamental
travar a expansão do trabalho por turnos e noturno e, por outro, alargar os direitos
laborais destes trabalhadores!
Até agora temos
encontrado pouca abertura da maioria dos partidos políticos e da própria UE
para esta questão,mais preocupados em defender a competitividade e os ganhos
das empresas.Mas não podemos apenas ver de um olho!Há que defender o trabalho
digno e a economia ao serviço da justiça social, da saúde e bem estar da
população!
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