Recentemente foi entregue aos parceiros sociais na concertação social o Livro Verde sobre o
futuro do trabalho, documento do Ministério do Trabalho.O texto segue tradição dos livros verdes, ou seja, é um documento que fornece informações ,estatisticas e reflexões sobre o trabalho como se tudo fosse inevitável neste mundo, sem crítica das políticas passadas ou em vigor e as razões da actual situação.
As formas de trabalho flexíveis e atípicas, o trabalho de plataformas,a precariedade, a queda da negociação colectiva nos últimos anos, com breve recuperação com a «geringonça», e nova queda abrupta com a pandemia.Não existem responsáveis nem dinamicas laborais que enriquecem uns e empobrecem outros.É um documento técnico dirão alguns, um documento neutro, um documento da administração.!No mundo da economia e das relações laborais nada é neutro.O facto de ser um documento técnico não deveria impedir uma reflexão mais profunda sobre as medidas políticas laborais, nomeadamente as que foram impostas na época da TroiKa sobre a negociação colectiva.
O capitulo 7 intitulado «Associativismo, representação dos
trabalhadores e diálogo social»é particularmente pobre e canhoto, não apenas na
análise, mas sobretudo nas propostas.O documento integra o sindicalismo e o
associativismo patronal no conceito de associativismo .Ora, o sindicalismo merece
pelo menos um capítulo e não se pode colocar ao mesmo nível que o
associativismo empresarial. A reflexão
que se faz é pobre.Aborda a necessidade de representar sectores de
trabalhadores não tradicionais como os trabalhadores independentes, das
plataformas e de outsourcing .
Por outro lado, tudo o que ali se diz sobre a
negociação colectiva é igualmente pobre e não apresenta propostas concretas
para a sua revitalização o que implicaria alterar o código do trabalho
nomeadamente no que respeita á caducidade das convenções.
Afirma-se que o associativismo e sindicalismo
estão a debilitar-se e os actores do trabalho estão a perder representatividade
mas igualmente não aparecem propostas substanciais nesta matéria.Então não
seria oportuno melhorar o Código do Trabalho dando mais poder aos sindicatos?Mais
horas livres aos delegados sindicais para a sua formação e ação nas empresas?Não
seria oportuno desburocratizar a legislação sobre a eleição das comissões de trabalhadores e dos representantes dos trabalhadores para a
segurança e saúde no trabalho?Não seria oportuno melhorar a legislação no sentido
de proteger melhor os delegados sindicais relativamente ao despedimento e
facilitar o acesso dos sindicatos á empresas renitentes?Não seria oportuno
negociar mecanismos na formação
profissional dos jovens trabalhadores para que lhes fosse ministrada uma formação
sindical consistente?
O Livro Verde neste capitulo é muito parco e
arrojado.Revela medo da administração perante o poder económico colocando-se
numa pretensa equidistância.Ora, a administração do trabalho e o direito
laboral devem apoiar o lado mais fraco, os trabalhadores, estudando formas
democráticas de equilibrar as relações laborais.
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