segunda-feira, 1 de setembro de 2014

UM SINDICATO AMIGO?

O sindicalismo na sua realidade concreta enfrenta atualmente vários desafios. Saliento apenas um ao nível da organização: a necessidade de concentrar organizações por razões económicas . A concentração por razões económicas conduz a grandes reestruturações juntando setores e sindicatos afins, sedes, equipamentos e federações em mega organizações.
 Esta concentração pragmática confronta-se para além dos problemas de poder e de território com um problema maior. É que estas megas organizações, frequentemente dirigidas por funcionários e dirigentes experientes e burocratizados esquecem que as classes trabalhadoras estão fragmentadas em carreiras especializadas por grau académico, por especificidades muito próprias e que buscam afirmação da sua identidade e interesses. Neste quadro é frequente ouvir-se dizer que o sindicato do setor não ouve a nossa categoria ou classe, não quer saber de nós, temos que fazer o nosso sindicato!
 Temos assim, em especial na administração pública, um proliferar de pequenos sindicatos e federações que buscam um maior reconhecimento e defesa de interesses de grupos específicos de trabalhadores. Lembro a criação recente do sindicato Nacional dos Assistentes Sociais, dos sindicatos das inspeções que criaram recentemente uma Federação, do sindicato dos trabalhadores dos impostos. Juízes e outros. No setor privado a recente criação dos Trabalhadores dos Call Centers. A reação das grandes organizações, incluindo as centrais sindicais, nem sempre é a mais positiva. Aparentemente não têm uma estratégia para além de desmobilizar esta dinâmica em nome do combate á proliferação sindical que na sua opinião enfraquece as classes trabalhadoras! Enfraquece? Claro, se a estratégia se resume a ignorar o outro e a sua reivindicação!
 As iniciativas de criação de pequenos sindicatos devem ser levadas a sério pelos sindicatos já estabelecidos. Por vezes podem ser apenas iniciativas de um ou outro trabalhador sedento de protagonismo. Creio, porém, que na maioria dos casos existem razões objetivas que levam á criação de um sindicato específico. Os trabalhadores sentem a organização mais próxima, mais amiga e têm a sensação de que o grande sindicato estabelecido raramente está com eles, ou, se está, é para entregar um papel, convidar a uma manifestação! Ora, esta realidade deve desafiar os grandes sindicatos a pensarem numa outra abordagem a este problema. Dá trabalho? Pois dá e muito! Exige um sindicalismo que pensa constantemente a sua prática e não se deixa burocratizar!

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