terça-feira, 17 de setembro de 2024

AS DOENÇAS PROFISSIONAIS SÃO ATENTADO AO TRABALHO DIGNO!

 

A maioria dos trabalhadores e trabalhadoras portuguesas não relaciona as doenças com a profissão.Uma realidade invisível mas que revela os níveis de exploração dos trabalhadores e uma cultura escandalosa  de desvalorização do trabalho!Esta cultura é incompatível com a promoção do trabalho digno que enche a boca a tanta gente!

Em geral vamos ao médico de família e este frequentemente também não relaciona  as doenças com a


nossa profissão.Como a maioria dos serviços de saúde do trabalho são externos, as condições de trabalho são pouco conhecidas pelos médicos desses serviços que nos fazem de longe em longe um exame, nos tiram umas «chapas»,nos pesam e, quando muito, fazem um electrocardiograma.A medicina do trabalho em Portugal é em larga medida uma prática burocrática.O próprio Estado como patrão deixa muito a desejar...são muitos os locais de trabalho de serviços públicos que não cumprem a legislação no que respeita à prevenção dos riscos profissionais!

Segundo a Organização Internacional do Trabalho as doenças profissionais matam seis vezes mais trabalhadores/as a nível mundial que os acidentes de trabalho e deixam incapacitados milhares de trabalhadores/as.

Em Portugal são as mulheres trabalhadoras as mais afectadas pelas doenças profissionais representando mais de 70% do total das certificações, sendo a maioria das incapacidades resultantes de lesões músculo-esqueléticas.Esta doença tornou-se na principal doença profissional em toda a Europa e levou a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho a realizar  campanhas de informação e alguns estudos sobre esta problema.

Quantas mulheres trabalham anos e anos com tendinites, com dores, sem poderem fazer uma vida normal e não são mudadas dos locais de trabalho que as puseram doentes?Andam com paliativos, intoxicadas de remédios quando deveriam estar de baixa e devidamente acompanhadas.Não uma baixa de doença normal, mas profissional com todos os direitos inerentes, nomeadamente sem custos para a pessoa doente.

Os números sobre doenças profissionais não são credíveis

Os números sobre doenças profissionais certificadas em Portugal não são crediveis e nunca ultrapassaram as cinco a seis mil por ano. Os distrito de Setúbal,Aveiro e Porto aparecem nos primeiros lugares.A indústria transformadora aparece como o sector com mais doenças profissionais.

A própria Direção Geral de Saúde reconhece que só uma pequena parte das doenças profissionais é participada.Assim os custos são suportados em larga medida pelo próprio trabalhador/a.É um dos aspectos mais escondidos da exploração dos trabalhadores que tem aumentado com os ritmos de trabalho,a pressão da gestão e dos clientes e de algumas tecnologias, nomeadamente a informatização da economia.

A invisibilidade das doenças profissionais tem várias causas, sendo a principal o facto de que existe uma grande dificuldade na associação entre doença e trabalho.Todavia, o sistema pode e deve ser melhorado.Temos que melhorar em especial a avaliação de riscos nas empresas e todo o sistema de participação e certificação das doenças profissionais.

Mais uma questão: para quando a atualização da lista nacional de doenças profiisionais?A Comissão já está a trabalhar há anos e ainda não temos resultados?É urgente a sua atualização dado que temos novos riscos profissionais em particular do domínio psicossocial.

A CGTP editou recentemente um GUIA intitulado «COMBATER AS DOENÇAS PROFISSIONAIS das mulheres trabalhadoras» que explica de forma pedagógica e simples o que são as doenças profissionais, quais os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras neste domínio, nomeadamente quanto á prevenção e reparação das mesmas.A brochura, para além de estar acessível em papel também pode ser consultada no site da Central Sindical.A perspectiva sindical também está presente neste pequeno livrinho que aconselhamos vivamente.

 

 

 

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

SINDICALISMO E ECLIPSE DA DEMOCRACIA LIBERAL

 

Um dos sinais importantes do definhamento da democracia foi no passado a crise do sindicalismo.Basta ver a história do nosso País no século passado e constatamos que alguns anos antes da ditadura militar de 1926 a República atacou por diversas vezes o Movimento Operário e Sindical tendo como pano de


fundo o medo de que se implantasse em Portugal uma República dos Sovietes.

Para além dos ataques ao Movimento Sindical dos governos liberais e republicanos ocorreu também um importante debate entre os sindicalistas libertários e comunistas sobre a Revolução Russa e a natureza do regime bolchevique.A estratégia da Internacional Comunista em todo o mundo teve também a sua influência no Movimento Sindical Português aprofundando a disputa e guerrilha entre anarquistas e comunistas pela liderança do mesmo.

As consequências da guerra e a crise económica do capitalismo levaram a uma crise social  enorme com  desemprego , doença e fome não apenas no campo mas também nas maiores cidades.A República conservadora  e a democracia liberal ,tal como a Monarquia, não resolvia os problemas nacionais e muito menos os problemas sociais e económicos do povo português.Criou até as condições internas para a ditadura.

A prisão e deportação de milhares de sindicalistas , a crise económica e a luta pela hegemonia das organizações de trabalhadores foram debilitando o Movimento Operário e Sindical facilitando assim o advento da ditadura do «Estado Novo»

Ora hoje as classes dominantes e as grandes empresas têm o controlo político da nossa segunda República.Por enquanto ainda não reprimem às claras as organizações de trabalhadores e os ativistas sindicais.Todavia , e por enquanto,conseguem os mesmos objetivos através de outras táticas:colocam os seus representantes nos órgãos do estado , controlam os grandes órgãos de difusão da ideologia burguesa em que tudo é uma mercadoria,varrem da memória , deturpam ou ignoram os principais acontecimntos e simbolos da Revolução de Abril como Otelo,Salgueiro Maia,Reforma Agrária,ocupações de casas pelos pobres,enaltecem contecimentos que lhes deram o poder como o 25 de novembro de 1975.

Usando e pagando a dezenas de comentadores e jornalistas silenciam as atividades das organizações de trabalhadores e investem milhões em eventos de afirmação da modernidade tecnológica,festivais e outros arraiais.Procuram decredibilizar e meter no saco do anacronismo tudo o que sejam utopias,projetos coletivos e do bem comum.Enaltecem o empreendorismo, o culto burgues e acomodado do casamento,o consumismo desenfreado,amesquinhando a poupança, a seriedade e o compromissão generoso e militante!

Se esta estratégia de anestesiamento social para obter o máximo lucro e todo o poder ao capital tiver sucesso poderemos ter paz-a paz dos escravos.Se esta estratégia tiver a contestação e a rebelião de largos setores do povo, então virão medidas mais duras e até será colocada em causa a democracia liberal que essa gente da finança tanto ama enquanto lhes encher os bolsos!

Fazer esquecer as organizações de trabalhadores e a sua luta,descredibilizar e atacar a sindicalização dos trabalhadores foi e  é um elemento central da estratégia do capital.O futuro da democracia social ,económica e participativa exige um sindicalismo forte, reivindicativo e ator social central!Não existem grandes transformações sociais emancipatórias sem a participação das organizações dos trabalhadores!